Biografia

António Carneiro

António Teixeira Carneiro Júnior nasceu a 16 de Setembro de 1872, em Amarante. Filho de um comerciante que partira para o Brasil e que viera à cidade no ano anterior, e de uma modesta mulher que o pai logo deixou para regressar ao Brasil. Quando tinha sete anos, em 1879, a mãe morreu. Nessa data partiu para o internato do Asilo do Barão de Nova Sintra pertencente à Misericórdia do Porto, onde permaneceria onze anos.

No asilo, em 1884, facultaram-lhe a frequência da Academia de Belas Artes, devido às potencialidades que lhe haviam reconhecido, terminando em 1890 o curso de desenho. Nesta altura, e ainda antes da conclusão dos estudos académicos, que ocorrerá em 1896 (Pintura de História), deixa o Asilo.

Trabalha esporádicamente como amanuense num cartório, experiência pouco referida e por muitos desconhecida. È por esta altura que conhece o pai, entretanto regressado do Brasil e fundador do jornal amarantino Flor do Tâmega, que manteve com o artista laços de grande afectividade.

Em 1893 (23 de Dezembro), quando ainda frequentava a Academia, casa com Rosa Carneiro. Deste casamento que durou eté ao fim da sua vida, nasceram três filhos . Em 1895, Cláudio Carneiro que viria a ser músico. Seguindo-se Maria Josefina que morreria em 1925, e por último, Carlos Carneiro que também seria pintor.

Por volta de 1895 desloca-se a Amarante, onde visita com o pai, a casa de Teixeira de Pascoaes, ainda estudante liceal e longe de prever o tipo de amizade que entre ambos se verificaria.

António Carneiro e Teixeira de Pascoaes

Na Escola, António Carneiro matricula-se no curso de escultura e é discípulo de Soares dos Reis, desistindo do curso após o suicídio do mestre, passando ao curso de desenho e pintura onde recebe lições de João Correia e de Marques de Oliveira. Durante este periúdo conhecem-se algumas actividades extra: de 1888, data um jornal ilustrado, O Mosquito; de 1891 há a notícia de ter publicado uma plaquete de poemas e em 1894 sabe-se ter dirigido a efémera revista Geração Nova. Em 1896 apresenta, como obra final decurso, a tela Jesus e a Lenda do Martírio.

Perto do final do curso apresenta-se, em 1895 e 1896, em exposições que têm lugar no Ateneu Comercial do Porto e no Salão do Grémio Artístico, em Lisboa. Já desta época datam alguns retratos que vão ajudando à subsistência da família. Em 1897, com 25 anos, uma bolsa do Marquês de Praia e Monforte, que o ajudava desde há alguns anos , e ainda a intervenção de amigos como Alberto de Oliveira, permitem-lhe partir para Paris onde frequenta a Academia Julien.. Ai, trabalha num atelier do Boulevard Arago, nº10, residindo com a esposa.

Será fora da Academia e dos ateliers institucionais que Carneiro encontrará as verdadeiras fontes de estudo e inspiração - nos simbolistas que à data expunham em Paris. Teixeira Lopes é um dos colegas desta estadia.

Entre Junho e Agosto de 1899, empreende uma viagem a Itália, de onde regressa com um Diário, sugestivo para entendermos algumas das opções estéticas que realizará.

Em 1999 é convidado a participar no Pavilhão da Exposição Universal de Paris, sendo-lhe atribuída a 3ª Medalha pela obra Fonte do Bem, que naufragaria na viagem de regresso a Portugal.

Em 1901, depois do regresso ao país, expõe na Misericórdia do Porto e no Salão da Ilustração Portuguesa, em Lisboa, os resultados do seu trabalho em Paris.

No período imediato à sua chegada, a Misericórdia portuense, que lhe encomendara o Ecce-Homo, recusa a obra por não respeitar os cânones iconográficos em vigor. O quadro encontrava-se ainda no atelier quando da sua morte.

Não deixando, de utilizar o Átrio da Misericórdia para expor em 1902, no seguimento da encomenda que obtivera do Dr. Francisco Barahona para o Palácio Barahona em Évora. Pinta então telas de carácter histórico – A Reconquista de Évora aos Espanhóis. No mesmo ano concorre com a obra Raquel (ver estudo) ao Prémio Barão de Castelo de Paiva, da Academia de Belas Artes do Porto, obtendo um único voto a favor da sua obra – O de Teixeira Lopes.

Em 1903 regressa a Paris, onde faz retratos por encomenda. O mesmo se repete em Bruxelas. Neste ano obtém uma medalha de 2ª classe, pela participação no Salão da Sociedade Nacional de Belas Artes. Em 1904 Participa na Exposição de St. Louis (EUA), onde consegue uma medalha de prata. No mesmo ano concorre ao Salão da S.N.B.A. e expõe individualmente em Lisboa e no Porto (ainda na Misericórdia). Em 1906 expõe novamente na anual da S.N.B.A. e recebe uma medalha na categoria de desenho. Em 1907 trabalha para a encomenda do Palácio da Bolsa, no Porto, onde faz a decoração do tecto da sala de leitura. Ainda neste ano, recebe uma medalha de ouro, com um dos retratos da esposa, na Exposição Internacional de Barcelona. Em 1908 pinta o retrato de D. Manuel II que merece honras de imprensa no jornal Flor do Tâmega. Em 1911 expõe no Salão da Ilustração Portuguesa, altura em que o Estado adquire algumas obras para o Museu Nacional de Arte Contemporânea e para o Museu Nacional de Arte Antiga. Neste ano inicia funções de professor na Escola de Belas Artes do Porto, ainda que provisoriamente nomeado.

Em 1912 tem lugar o «segundo encontro» com Teixeira de Pascoaes. Emparceiram na direcção (um literária e outro artística) da revista A Águia, vinda já de 1910, e que se torna orgão do movimento entretanto formado – a «Renascença Portuguesa». Ambos dirigem quase toda a segunda série da publicação, até Outubro de 1921, tendo Pascoaes saído por volta de 1917 e entrado Álvaro Pinto para assumir a direcção. A, Carneiro manteve-se activo ao longo da terceira série, saída entre Julho de 1922 e Dezembro de 1927, altura em que é dirigida por Leonardo Coimbra. A sua ligação à Águia ocupou-o intensamente, dado que implicava a selecção criteriosa de muitas ilustrações, extratextos de muitos artistas, para além das que ele próprio realizava. A medida do seu empenho pode ainda verificar-se através do desenho do ex-libris da «Renascença Portuguesa», símbolo engendrado pelo artista e que acompanhava todas as edições do movimento.

Em 1914 António Carneiro desloca-se ao Brasil onde permaneceu até 1915, regressando com uma vasta série de aguarelas. Fez exposições em São Paulo e no Rio de Janeiro.

Em 1918 entra, com nomeação definitiva, para a Escola de Belas Artes responsabilizando-se pela cadeira de desenho de figura (estátua e modelo vivo). Ainda em 1918, ocupa-se de encomendas para a Universidade de Coimbra, conseguidas através do empenho de Eugénio de Castro. Realiza, para a sala dos Actos da Faculdade de Letras, os retratos de Damião de Góis e de Sá de Miranda.

Depois de uma produtiva estadia nas praias da Figueira da Foz e de uma exposição que realiza em 1922 na S.N.B.A., em Lisboa, o início dos anos 20 trará acontecimentos importantes ao pintor, mais concretamente, a construção de um edificio propositadamente concebido para atelier de pintura, onde o pintor residirá até à sua morte. O atelier situava-se então no nº245 da Rua Joaquim António de Aguiar. O apoio mecenático que já conhecera como bolseiro parisiense volta a fezer uma aparição, agora anónima. É através de Oliveira Cabral que o capitalista recém chegado do Brasil, Domingos Rufino, coleccionador de obras de arte, toma conhecimento da necessidadeque o pintor tinha de agenciar um local que lhe permitisse concretizar alguns dos sonhos que acaletava, sendo um dos mais relevantes o trabalho de ilustração da Divina Comédia, de Dante, de que chegará a ilustrar o «Inferno».

Estudos Para Ilustração da ''Divina Comédia'' de Dante (C.1928)

Com o referido financiamento, A. Carneiro solicita um projecto ao arquitecto Raúl Lino, que viria a ser recusado pela Comissão de Estética da Cidade. Com a assinatura de Sá e Melo, que depois contaria com o apoio de um decorador –Álvaro Miranda-, submete a aprovação da Câmara novo projecto, que seria aceite. Em Fevereiro de 1925 o edifício situado na Rua Barros Lima, hoje Rua de António Carneiro, é inaugurado, contando com uma pequena sala, anexa à de A. Carneiro, destinada ao filho, Carlos Carneiro. A existência do local, especificamente vocacionado para a produção artística, intensificou o ambiente de tertúlia que rodeava António Carneiro, tornando-se a oficina num dos símbolos de uma geração saudosista, melancólica e pensadora, vinda do movimento da «Renascença Portuguesa». Os sonetos dedicados pelo artista ao atelier impõem de forma ainda mais consistente o ideário da solidão, do silêncio e do isolamento que o espaço inspira e intensifica.

É também neste ano -1924- que Amarante lhe dedica, e a Teixeira de Pascoaes, uma homenagem pública a que o pintor não comparece devido à doença da filha, tendo estado presente Carlos Carneiro.

A segunda metade dos anos 20, é marcada pela interiorização extrema, expressa em interiores de igrejas, que coincide com os anos que se seguem à morte da filha, em 1925.

A ilustração da Divina Comédia, de Dante, ficou incompleta, apenas a parte relativa ao «Inferno» foi esboçada, numa série de 42 desenhos situáveis à volta de 1928.

O atelier está ainda ligado a um projecto de grandes dimensões que ocuparia A. Carneiro no final dos anos 20 e de que resultaram dezenas de estudos e duas versões de Camões lendo os Lusíadas aos frades de S. Domingos.

António Carneiro no Salão do Atelier (1929)

Em 30 de Junho de 1929 embarca em Leixões (A Partida para o Brasil (Flor do Tâmega, 7.7.1929) para repetir as exposições de há quinze anos em São Paulo e Rio de Janeiro (Um Título de Imprensa Brasileira). Esta seria agora visitada pelo embaixador de Portugal no Brasil. No regresso a Portugal resistiu apenas alguns meses e morreu a 31 de Março de 1930, com 58 anos. Não chegaria a desempenhar a função de Director de Escola de Belas Artes, cargo para o qual fora nomeado no decurso de 1929 e de que toma conhecimento no Brasil.

No ano de 1930, ano da morte do pintor, desaparece também a revista A Águia.

«...E conclui por fim que, na verdade, A autêntica, a profunda realidade Unicamente dentro de nós existe...» 'Ronda de Sombras'

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