Exposições

- INDIVIDUAIS:

1901 - Pátio da Misericórdia do Porto (Março).
1901 - Salão da Ilustração Portuguesa, Lisboa.
1902 - Pátio da Misericórdia do Porto.
1911 - Salão da Ilustração Portuguesa, Lisboa (Dezembro).
1914 - Galeria Jorge, Rio de Janeiro.
1914 - Salão Nobre da Associação Comercial de Paraná, Curitiba (Outubro).
1916 - Salas Álvaro Miranda, Granja (Outubro).
1918 - Galeria Jorge, Rio de Janeiro (Junho).
1922 - SNBA, Lisboa (Fev./Março).
1925 - Salão do Atelier, Porto.
1929 - Galeria Jorge, Rio de Janeiro (Agosto).
1929 - Prédio Glória, S. Paulo (Novembro).


- PÓSTUMAS:

1931 - Palácio da Bolsa, Porto Abril).
1933 - Palácio de Cristal, Porto).
1937 - Salão Silva Porto, Porto.
1952 - Galeria António Carneiro, Porto (Setembro).
1954 - Biblioteca Museu de Amarante (Junho).
1955 - ESBAP (Abril).
1958 - Exposição Retrospectiva, SNI, Lisboa e ESBAP (Maio).
1960 - Comissão Municipal de Turismo de Matosinhos (Abril).
1962 - Claustros do Governo Civil de Vila Real (Junho).
1964 - Ilustrações para a "Divina Comédia" de Dante. Sétimo Centenário do Nascimento de Dante, Roma (Agosto).
1965 - Ilustrações para a "Divina Comédia" de Dante, Ateneu Comercial do Porto (Junho).
1967 - Ilustrações para a "Divina Comédia" de Dante. Maison Française/Assumption College, Worcester, E.U.A.
1973 - Exposição Retrospectiva do Primeiro Centenário, BCG e MNSR, Lisboa e Porto (Março/Abril).
1974 - Conservatório Regional de Aveiro (Maio).
1980 - Fundação Engº António de Almeida, Porto (Junho).
1980 - Câmara Municipal de Matosinhos (Dez./Janeiro 1981).


- COLECTIVAS:

1894 - Centro Artístico Portuense, Porto.
1895 - Ateneu Comercial do Porto.
1896 - Salão do Grémio Artístico, Lisboa.
1900 - Exposição Universal de Paris.
1903 - 3º Salão da SNBA, Lisboa.
1904 - 4º Salão da SNBA, Lisboa.
1904 - Exposição Universal de St. Louis, E.U.A.
1906 - 6º Salão da SNBA.
1907 - Exposição Internacional de Barcelona.
1908 - Exposição do Centenário, Rio de Janeiro.
1918 - Renascença Portuguesa, Porto.


Colecções Institucionais em que está representado (selecção):

Banco Português do Atlântico
Banco Borges e Irmão
Casa-Oficina António Carneiro, CM Porto
Museu Nacional de Soares dos Reis
Museu da Quinta de Santiago, C.M. Matosinhos
Casa Museu Fernando de Castro, Porto
Fundação Cupertino de Miranda, Famalicão
Misericórdia do Porto
Casa Museu Teixeira Lopes, CM V. N. Gaia
Fac. Belas Artes da Universidade do Porto
Museu Biblioteca Almeida Moreira, Viseu
Governo Civil do Porto
Museu de Angra do Heroísmo
Museu do Chiado, Lisboa
Museu do Caramulo
Museu Grão Vasco, Viseu
Museu Militar, Porto
Museu Machado de Castro, Coimbra
Museu João de Deus, Lisboa
Palácio da Bolsa, Porto
Universidade de Coimbra


Bibliografia:

CASTRO, Laura - António Carneiro, O Universo no Olhar (Afrontamento, C.M. Matosinhos, 1996)
ALVES, João - António Carneiro e a Pintura Portuguesa (Porto, C.M. Porto, 1971)
FRANÇA, José Augusto - António Carneiro (Lisboa, F.C.G., 1973)

Cláudio Carneyro (1895-1963)

Cláudio Carneyro

Cláudio Carneyro (27-1-1895 / 18-10-1963) protagoniza um dos casos mais flagrantes de identificação entre um artista e a sua terra natal. Nasceu, viveu e morreu no Porto, com o qual ficará conotado para sempre, como o compositor por excelência daquela cidade.

Muitos dos traços psíquicos da sua personalidade, encontrados na sua obra, reflectem bem características de perfil ambiental. Na veracidade do seu trabalho e na integridade do seu ser reconhece-se os alicerces graníticos sobre os quais assentou a maior parte da sua vida. As condições climáticas e topográficas da sua cidade austera e brumosa, por vezes como que diluída em neblinas transparentes e esbranquiçadas, condiziam com a sua aguda sensibilidade, com o seu misticismo e com os estilos a que aderiu, sobretudo o impressionista.

Profundo conhecedor das bases de formação clássica, tendo por fonte inesgotável de saber J. S. Bach e uma grande predilecção pelo polifonismo a-cappella, (é importante lembrar que divulgou os polifonistas portugueses, quando ainda esquecidos, e que produziu uma vasta obra coral só para vozes!) Cláudio Carneyro adquiriu uma estética moderna muito pessoal. Sem abandonar a tradicional tonalidade, embora com escapadas para experiências de atonalismo livre e de dodecafonismo, a sua música serve-se de cromatismos, sucessões de tons inteiros e motivos de carácter modal.

É incontestável a relevância que a sua obra da Canção Culta de Câmara assume na História da Música Portuguesa, cabendo-lhe representar a transição do romantismo para a música moderna, situando-se sobretudo no impressionismo, no simbolismo e no expressionismo, com páginas de fino requinte que evocam miniaturas intímistas. Cláudio Carneyro foi mestre na sintetização de urdidura musical ao interpretar um poema e também no tratamento da prosódia. A escolha de poesia medieval denuncia o seu gosto pelo arcaico.

O interesse pela música portuguesa manifesta-se fortemente, já pela sua pesquisa folclórica, já pelas suas harmonizações de melodias do povo e inserção de temas populares em variadas obras do seu legado musical que abrange todos os géneros, menos o da ópera e o da oratória, e em que se salienta a música de câmara, de piano, de bailado e sinfónica.

Rodeado por uma família de artistas (seu pai e irmão foram os pintores António e Carlos Carneiro e a sua mulher a violinista americana Katherine Hickel Carneiro, promotora tenaz do seu espólio,) começou a estudar violino aos quinze anos, tendo sido decisivo para enveredar apenas pela composição, o sucesso obtido em Paris pelo seu Prelúdio, Coral e Fuga que Gabriel Pierné dirigiu (1920 e 25). No Porto trabalhou composição com Lucien Lambert e em França com Charles Widor e Paul Dukas. Foi professor de solfejo e de composição no Conservatório de Música do Porto, de que foi director (1955/1958).

'Cláudio Compositor' - António Carneiro (1918)

Cláudio Carneyro 'Songs' (Strauss, 1995)
Elvira Archer - Soprano;
Nella Maissa - Piano.

(mp3 - 256 kbps)

Gravação: Estúdio JORSOM, 6, 7, 8 e 9 de Outubro de 1987.

Retrato de Cláudio Carneiro, s.d (1927)

Lista Essencial das obras de Cláudio Carneiro:

MÚSICA DRAMÁTICA - Auto da Cidade.
BAILADO - Nau Catrineta, O Douro correu para o Mar.
MÚSICA ORQUESTRAL - Portugalesas, Baíadeiras, Cantarejo e Dânçara.
MÚSICA DE CÂMARA - Trio com piano, Sonata para violino e piano, Bruma (violino e piano), A roda dos degredados (violino e piano), Quarteto co piano, Quarteto de cordas, Khroma (violeta e piano), Sonatina (violoncelo e piano), Memento (orquestra de arcos), Prelúdio Coral e Fuga (orquestra de arcos), etc.
MÚSICA DE PIANO - Carrilhões de bronze, Carrilhões de prata, Harpa Eólia, Movimento perpétuo parana, etc.
MÚSICA VOCAL - Cantares, Velhos cantares, Canções Populares Portuguesas, Quatrain Epitaphyo, canções com textos de: Júlio Diniz, Antero de Quental, Eugénio de Castro, Guerra Junqueiro, Rodrigues Lobo, etc.

O Simbolismo de António Carneiro

É no período parisiense, ao terminar a sua formação académica, que se situa a definição de valores do simbolismo na obra de António Carneiro que, se marcaram intensamente a obra que produziu na transição do século, haviam de se manter subtilmente em momentos posteriores da sua carreira, mas já sem a definição clara que atinge nesta fase.

As primeiras obras que suscitaram alusões ao simbolismo foram A Fonte do Bem (1900), A Vida (1899-1900), Ecce-homo (1901), Raquel (1902), Baptismo (1904) e Ceia (datável deste período). Refira-se ainda o trabalho de decoração do tecto da Sala de Leitura do Palácio da Associação Comercial do Porto (1907). Mas já em Jesus e a Lenda dos Martírios ( peça de final de curso), se assinalava a novidade de o pintor haver escolhido um tema com fortes incidências psicológicas, ao contrário dos seus colegas, afadigados no tratamento da mitologia.

O tríptico A Vida, exposto em 1901 na átrio da Misericórdia Portuense, mas elaborado e pensado em Paris e que resultou de uma série de desenhos preparatórios, bem como um estudo a óleo, hoje na Casa-Oficina António Carneiro, desenvolve-se em três painéis, referenciados com os «subtítulos» Esperança, Amor e Saudade, a que correspondem elementos figurativos simbólicos: uma figura feminina jovem, nua, acompanhada de uma criança, uma donzela e um cavaleiro numa «cavalgada romântica» e uma esfinge por detrás de um vulto feminino vestido de negro, ao lado de outra criança. A vegetação é rara, composta por pinheiros e ciprestes.

Se as personagens de A Vida não tinham lugar no imaginário da pintura portuguesa da época, se o simbolismo das idades da vida e do mundo, com toda a carga existencial e interrogativa que se lhe aponta, intrigaram o público de então, outro tanto aconteceu com uma peça de 1902 - Ecce-homo. Não só intrigou o público como os encomendadores - Misericórdia do Porto - pelo facto de a figura não ter a coroa de espinhos e a cana verde, facto que os levou a recusar a obra. Não fora o modo estranho de abordar a figura de Cristo e esta obra poderia inscrever-se na pintura de temática religiosa. Como sublinhou Manuel Laranjeira, não interessava a António Carneiro o tratamento mero e simples de um tema tão académico. O seu objectivo, apesar de cumprir um programa de encomenda, era outro: «Antes de mais, é preciso frisá-lo bem, o 'Cristo' não é uma tela religiosa, banhada de fé e espiritualidade cristãos. Tão puco é, como poderia supor-se num artista destes tempos de enfebrecido ateísmo, uma tela humana (...) Hoje o Cristo é apenas um símbolo humano (...) homem-ideia que é a figura central de um grande drama (...) despojada de todos os acessórios lendários, das alegorias místicas e depurada de todos os traços defeituosos que a realidade histórica parece atribuir a certo agitador da Galileia (...)» (Manuel Laranjeira). António Carneiro complicou-o ainda mais ao escolher para o rosto de Cristo a sua própria face. O Ecce-homo é um auto-retrato. Religião, símbolo e retrato, tríade complexa que se refletiu na recusa da peça. Torna-se assim uma forma de auto-conhecimento, presente em praticamente todos os ciclos do trabalho do pintor.

No que se refere a outros trabalhos deste periodo, como O Baptismo ou Raquel, foi principalmente a atmosfera melancólica que as encaminhou para a maneira simbolista, logo seguida de referências aos contornos fluidos a à quase flutuação das figuras. Mas na última fase da obra de António Carneiro regressarão alguns sinais do simbolismo, traços que ficaram deste núcleo inicial de obras. A responsabilidade pelo ressurgimento deste interesse acerca das grandes questões da humanidade cabe à vontade de ilustrar a Divina Comédia de Dante, vontade que ficaria frustrada. Só para o Inferno conseguiu realizar quarenta e dois esboços de ilustração, elaborados cerca de 1928, ficando o projecto incompleto. Os episódios escolhidos pelo artista têm um valor simbólico e denotam o seu interesse por problemas metafísicos.

Bibliografia:

  • Antonio Carneiro - O Universo no Olhar, Laura Castro
  • António Carneiro - Laura Castro (Ed. INAPA)

Biografia

António Carneiro

António Teixeira Carneiro Júnior nasceu a 16 de Setembro de 1872, em Amarante. Filho de um comerciante que partira para o Brasil e que viera à cidade no ano anterior, e de uma modesta mulher que o pai logo deixou para regressar ao Brasil. Quando tinha sete anos, em 1879, a mãe morreu. Nessa data partiu para o internato do Asilo do Barão de Nova Sintra pertencente à Misericórdia do Porto, onde permaneceria onze anos.

No asilo, em 1884, facultaram-lhe a frequência da Academia de Belas Artes, devido às potencialidades que lhe haviam reconhecido, terminando em 1890 o curso de desenho. Nesta altura, e ainda antes da conclusão dos estudos académicos, que ocorrerá em 1896 (Pintura de História), deixa o Asilo.

Trabalha esporádicamente como amanuense num cartório, experiência pouco referida e por muitos desconhecida. È por esta altura que conhece o pai, entretanto regressado do Brasil e fundador do jornal amarantino Flor do Tâmega, que manteve com o artista laços de grande afectividade.

Em 1893 (23 de Dezembro), quando ainda frequentava a Academia, casa com Rosa Carneiro. Deste casamento que durou eté ao fim da sua vida, nasceram três filhos . Em 1895, Cláudio Carneiro que viria a ser músico. Seguindo-se Maria Josefina que morreria em 1925, e por último, Carlos Carneiro que também seria pintor.

Por volta de 1895 desloca-se a Amarante, onde visita com o pai, a casa de Teixeira de Pascoaes, ainda estudante liceal e longe de prever o tipo de amizade que entre ambos se verificaria.

António Carneiro e Teixeira de Pascoaes

Na Escola, António Carneiro matricula-se no curso de escultura e é discípulo de Soares dos Reis, desistindo do curso após o suicídio do mestre, passando ao curso de desenho e pintura onde recebe lições de João Correia e de Marques de Oliveira. Durante este periúdo conhecem-se algumas actividades extra: de 1888, data um jornal ilustrado, O Mosquito; de 1891 há a notícia de ter publicado uma plaquete de poemas e em 1894 sabe-se ter dirigido a efémera revista Geração Nova. Em 1896 apresenta, como obra final decurso, a tela Jesus e a Lenda do Martírio.

Perto do final do curso apresenta-se, em 1895 e 1896, em exposições que têm lugar no Ateneu Comercial do Porto e no Salão do Grémio Artístico, em Lisboa. Já desta época datam alguns retratos que vão ajudando à subsistência da família. Em 1897, com 25 anos, uma bolsa do Marquês de Praia e Monforte, que o ajudava desde há alguns anos , e ainda a intervenção de amigos como Alberto de Oliveira, permitem-lhe partir para Paris onde frequenta a Academia Julien.. Ai, trabalha num atelier do Boulevard Arago, nº10, residindo com a esposa.

Será fora da Academia e dos ateliers institucionais que Carneiro encontrará as verdadeiras fontes de estudo e inspiração - nos simbolistas que à data expunham em Paris. Teixeira Lopes é um dos colegas desta estadia.

Entre Junho e Agosto de 1899, empreende uma viagem a Itália, de onde regressa com um Diário, sugestivo para entendermos algumas das opções estéticas que realizará.

Em 1999 é convidado a participar no Pavilhão da Exposição Universal de Paris, sendo-lhe atribuída a 3ª Medalha pela obra Fonte do Bem, que naufragaria na viagem de regresso a Portugal.

Em 1901, depois do regresso ao país, expõe na Misericórdia do Porto e no Salão da Ilustração Portuguesa, em Lisboa, os resultados do seu trabalho em Paris.

No período imediato à sua chegada, a Misericórdia portuense, que lhe encomendara o Ecce-Homo, recusa a obra por não respeitar os cânones iconográficos em vigor. O quadro encontrava-se ainda no atelier quando da sua morte.

Não deixando, de utilizar o Átrio da Misericórdia para expor em 1902, no seguimento da encomenda que obtivera do Dr. Francisco Barahona para o Palácio Barahona em Évora. Pinta então telas de carácter histórico – A Reconquista de Évora aos Espanhóis. No mesmo ano concorre com a obra Raquel (ver estudo) ao Prémio Barão de Castelo de Paiva, da Academia de Belas Artes do Porto, obtendo um único voto a favor da sua obra – O de Teixeira Lopes.

Em 1903 regressa a Paris, onde faz retratos por encomenda. O mesmo se repete em Bruxelas. Neste ano obtém uma medalha de 2ª classe, pela participação no Salão da Sociedade Nacional de Belas Artes. Em 1904 Participa na Exposição de St. Louis (EUA), onde consegue uma medalha de prata. No mesmo ano concorre ao Salão da S.N.B.A. e expõe individualmente em Lisboa e no Porto (ainda na Misericórdia). Em 1906 expõe novamente na anual da S.N.B.A. e recebe uma medalha na categoria de desenho. Em 1907 trabalha para a encomenda do Palácio da Bolsa, no Porto, onde faz a decoração do tecto da sala de leitura. Ainda neste ano, recebe uma medalha de ouro, com um dos retratos da esposa, na Exposição Internacional de Barcelona. Em 1908 pinta o retrato de D. Manuel II que merece honras de imprensa no jornal Flor do Tâmega. Em 1911 expõe no Salão da Ilustração Portuguesa, altura em que o Estado adquire algumas obras para o Museu Nacional de Arte Contemporânea e para o Museu Nacional de Arte Antiga. Neste ano inicia funções de professor na Escola de Belas Artes do Porto, ainda que provisoriamente nomeado.

Em 1912 tem lugar o «segundo encontro» com Teixeira de Pascoaes. Emparceiram na direcção (um literária e outro artística) da revista A Águia, vinda já de 1910, e que se torna orgão do movimento entretanto formado – a «Renascença Portuguesa». Ambos dirigem quase toda a segunda série da publicação, até Outubro de 1921, tendo Pascoaes saído por volta de 1917 e entrado Álvaro Pinto para assumir a direcção. A, Carneiro manteve-se activo ao longo da terceira série, saída entre Julho de 1922 e Dezembro de 1927, altura em que é dirigida por Leonardo Coimbra. A sua ligação à Águia ocupou-o intensamente, dado que implicava a selecção criteriosa de muitas ilustrações, extratextos de muitos artistas, para além das que ele próprio realizava. A medida do seu empenho pode ainda verificar-se através do desenho do ex-libris da «Renascença Portuguesa», símbolo engendrado pelo artista e que acompanhava todas as edições do movimento.

Em 1914 António Carneiro desloca-se ao Brasil onde permaneceu até 1915, regressando com uma vasta série de aguarelas. Fez exposições em São Paulo e no Rio de Janeiro.

Em 1918 entra, com nomeação definitiva, para a Escola de Belas Artes responsabilizando-se pela cadeira de desenho de figura (estátua e modelo vivo). Ainda em 1918, ocupa-se de encomendas para a Universidade de Coimbra, conseguidas através do empenho de Eugénio de Castro. Realiza, para a sala dos Actos da Faculdade de Letras, os retratos de Damião de Góis e de Sá de Miranda.

Depois de uma produtiva estadia nas praias da Figueira da Foz e de uma exposição que realiza em 1922 na S.N.B.A., em Lisboa, o início dos anos 20 trará acontecimentos importantes ao pintor, mais concretamente, a construção de um edificio propositadamente concebido para atelier de pintura, onde o pintor residirá até à sua morte. O atelier situava-se então no nº245 da Rua Joaquim António de Aguiar. O apoio mecenático que já conhecera como bolseiro parisiense volta a fezer uma aparição, agora anónima. É através de Oliveira Cabral que o capitalista recém chegado do Brasil, Domingos Rufino, coleccionador de obras de arte, toma conhecimento da necessidadeque o pintor tinha de agenciar um local que lhe permitisse concretizar alguns dos sonhos que acaletava, sendo um dos mais relevantes o trabalho de ilustração da Divina Comédia, de Dante, de que chegará a ilustrar o «Inferno».

Estudos Para Ilustração da ''Divina Comédia'' de Dante (C.1928)

Com o referido financiamento, A. Carneiro solicita um projecto ao arquitecto Raúl Lino, que viria a ser recusado pela Comissão de Estética da Cidade. Com a assinatura de Sá e Melo, que depois contaria com o apoio de um decorador –Álvaro Miranda-, submete a aprovação da Câmara novo projecto, que seria aceite. Em Fevereiro de 1925 o edifício situado na Rua Barros Lima, hoje Rua de António Carneiro, é inaugurado, contando com uma pequena sala, anexa à de A. Carneiro, destinada ao filho, Carlos Carneiro. A existência do local, especificamente vocacionado para a produção artística, intensificou o ambiente de tertúlia que rodeava António Carneiro, tornando-se a oficina num dos símbolos de uma geração saudosista, melancólica e pensadora, vinda do movimento da «Renascença Portuguesa». Os sonetos dedicados pelo artista ao atelier impõem de forma ainda mais consistente o ideário da solidão, do silêncio e do isolamento que o espaço inspira e intensifica.

É também neste ano -1924- que Amarante lhe dedica, e a Teixeira de Pascoaes, uma homenagem pública a que o pintor não comparece devido à doença da filha, tendo estado presente Carlos Carneiro.

A segunda metade dos anos 20, é marcada pela interiorização extrema, expressa em interiores de igrejas, que coincide com os anos que se seguem à morte da filha, em 1925.

A ilustração da Divina Comédia, de Dante, ficou incompleta, apenas a parte relativa ao «Inferno» foi esboçada, numa série de 42 desenhos situáveis à volta de 1928.

O atelier está ainda ligado a um projecto de grandes dimensões que ocuparia A. Carneiro no final dos anos 20 e de que resultaram dezenas de estudos e duas versões de Camões lendo os Lusíadas aos frades de S. Domingos.

António Carneiro no Salão do Atelier (1929)

Em 30 de Junho de 1929 embarca em Leixões (A Partida para o Brasil (Flor do Tâmega, 7.7.1929) para repetir as exposições de há quinze anos em São Paulo e Rio de Janeiro (Um Título de Imprensa Brasileira). Esta seria agora visitada pelo embaixador de Portugal no Brasil. No regresso a Portugal resistiu apenas alguns meses e morreu a 31 de Março de 1930, com 58 anos. Não chegaria a desempenhar a função de Director de Escola de Belas Artes, cargo para o qual fora nomeado no decurso de 1929 e de que toma conhecimento no Brasil.

No ano de 1930, ano da morte do pintor, desaparece também a revista A Águia.

«...E conclui por fim que, na verdade, A autêntica, a profunda realidade Unicamente dentro de nós existe...» 'Ronda de Sombras'

Bibliografia: